terça-feira, 29 de novembro de 2016

#ForçaChape

Hoje eu me deparei, logo pela manhã, com a notícia sobre a Chapecoense, sobre a queda do avião que vitimou todo o time titular, além da Comissão técnica e repórteres que cobririam o jogo da Copa Sulamericana.

Estavam todos excitados e felizes, pois a Chapecoense vinha de uma série de jogos vitoriosos, sem contar a defesa à queima roupa feita por Danilo, com seus pés, defesa esta que, dizem uns, hoje os separou de nós.

A Chapecoense, ou Chape, foi fundada em 10 de maio de 1973, com a finalidade de restaurar o futebol da cidade de Chapecó-SC. Vinha de uma escalada rumo aos grandes do futebol nacional, e da série D no Campeonato Brasileiro em 2009, chegou à série A em 2014. Amanhã, 30/11/2016, disputaria na Colômbia sua primeira final internacional.

Uma perda triste.

Quando tomei conhecimento dos fatos e acontecimentos, na manhã de hoje, ao acordar, por meio do Whatsapp, Facebook e Twitter, fui tomado por um sentimento de tristeza, como se tivesse perdido um ente querido próximo. Imaginei a alegria dos jogadores e torcedores, e a empolgação que todo o Brasil estava para ver a Chape se sagrar campeã da Copa Sulamericana.

Com o passar da manhã, comentei em um grupo que eu estava triste com o acontecido, no que li uma interpelação do tipo: "enquanto esse país não desgrudar do futebol, nada vai andar como deveria."

De ímpeto eu quis responder, fazer textão, mas achei que não era o momento, que eu deveria refletir sobre o que acabara de ler, pois eu mesmo já havia pensado desta forma há um tempo atrás.

O futebol entrou de fato em minha vida em 2005, quando meu cunhado me levou para assistir, no Morumbi (sou São Paulino), uma partida pelo Paulista daquele ano, em jogo contra o Atlético de Sorocaba, ocasião onde o Leão era o técnico da agremiação querida que escolhi torcer. Até essa época eu não me ligava muito em futebol, não entendia muito dos esquemas, não que hoje eu entenda, mas pelo fato de assistir, de acompanhar, me tornei fã, à minha maneira, deste esporte.

Então, hoje, me deparando com o comentário de um desconhecido em um grupo de uma rede social, como dito, de ímpeto, eu haveria de contestar aquele sujeito, de lhe dizer que ele estava errado, que não era apenas um jogo, que não era apenas sobre um esporte, mas me contive e me pus a pensar: "por que algumas pessoas pensam desta forma?"

Meu período de reflexão não foi longo, mas notei que não era raiva, ou desdém com o esporte pelo fato de não gostar de assistir, ou de menosprezar aqueles que gostam. De fato é um sentimento de falta de engajamento dos cidadãos nas questões político-partidárias, ou mesmo nas questões políticas, onde se diz pelo ditado: "futebol, política e religião não se discutem", brocado este que, na minha opinião, está evidentemente equivocado.

Devemos sim discutir política como discutimos futebol, mas então por que não o fazemos? Não o fazemos porque a política torna tudo mais complicado, tudo mais burocrático, mais moroso, em termos polpudos que nos custam ao entendimento, e por manobras sórdias, onde o "fair-play" passa longe. E cito um exemplo claro: mesmo o Presidente da República tendo declarado luto oficial de 3 dias, e o mundo (sim, o mundo) todo estar chocado e comovido com o acidente, nossos congressistas não desistiram de votar aquele que é um dos mais importantes projetos legislativos que vêm sendo discutidos atualmente, que é o pacote das 10 medidas contra a corrupção.

Isso caracteriza falta de jogo justo (ou "fair-play"), cuja falta no futebol é condenável. Uma loja de artigos esportivos e um site de notícias estão sendo rechaçados na mídia com uma velocidade e voracidade avassaladoras, dado que, na opinião de cidadãos, teriam se aproveitado do momento para explorar economicamente a tragédia, fosse vendendo camisas por quase o dobro do preço, seja querendo explorar os momentos que antecederam a queda.

Fato é que essa falta de sensibilidade ao próximo, que está muito presente no futebol, é completamente ausente na vida política, onde o jogo do pode tudo, do quero tudo impera e sufoca o cidadão, acabando com a sociedade, consequentemente tolhendo a liberdade de todos. Fato é que, se na política houvesse humanização, o "fair-play", hoje as atividades teriam sido interrompidas, sendo retomadas a partir da semana que vem. E não se trata de dizer que "é pelo futebol". É pela humanidade, é pelo próximo, é pela vida. Serve para nos lembrar que somos parte do todo, e que um acontecimento repentino, de súbito, nos mostra quão frágeis são nossas leis, nossos compromissos e nossa burocracia ante o destino. Daí a importância desse momento, de relembrar nossa humanidade, nossa união.

Prova dessa humanidade é que o clube que jogaria a final contra a Chape, o Atlético Nacional, publica em sua página um pedido à comissão organizadora da Copa Sulamericana: "Declare a Chapecoense campeã da Copa Sulamericana 2016." - gesto de justiça, gesto de respeito, gesto de humanidade.

Logo, por sermos humanos, nos afiliamos às questões que nos trazem à nossa essência (humana), nos distanciando daquilo que não somos (desumanos), pois foi assim que chegamos até aqui.

Com o tempo, aprendi que as coisas que produzimos, produzimos em prol da humanidade, em prol do próximo, para que aqueles que chegam depois de nós encontrem um lugar melhor pra viver, pra conviver, e isso se pode dizer que é humanismo. Sem isso, deixamos de ser o que somos, perdemos nossa essência.

Portanto, quando alguém lhe disser, que ao invés de discutir futebol, que se discuta política, não reaja reativamente, mas traga essa pessoa para pensar nas dicotomias que distanciam um mundo do outro, e porque as pessoas vêm escolhendo ser humanas, vêm escolhendo sua essência.

#ForçaChape