terça-feira, 20 de julho de 2010

Inversão da lógica

Quando a vida inverte seu ciclo natural, onde as coisas que deveriam acontecer posteriormente acontecem antes, de nada adianta consultar o mais sábio dos sábios, pois nenhuma sabedoria do mundo irá aplacar o sentimento de vazio que a inversão nos deixa.

A cicatriz que fica somente deixa clara a plausibilidade de qualquer fator alterar a percepção de tudo aquilo que um dia sonhamos, que um dia vivemos, que um dia fomos, para nos tornar algo novo.

A inquietação de buscar por respostas, de procurar objetividade, onde nenhuma clareza se fez presente, onde nenhuma lógica existe, sempre assolará nossas almas, não importa onde estejamos, tampouco o que estejamos fazendo.

Onde antes batia um coração, agora jaz um peito vazio, absorto, que busca incessantemente preencher o vazio deixado pela fruta vital, por aquele mecanismo que nos transmuta dia-a-dia.

E o que dizer, então, para os mais novos? Dizer que foi um sonho, se o sol ainda não se pôs? Difícil imaginar, portanto, como será o dia de amanhã, como será a semana seguinte, como será o mundo. E, se me permitem o egoísmo, o mundo de cada um.

Tudo funciona de acordo com a lógica imposta pela dinâmica vital, mas nem tudo se processa como se assim fosse, nem tudo se posta à nossa frente como se assim devesse. E por que, então, persistimos, já que o destino se incumbiu de roubar o tempero e sabor da vida?...

Persistimos porque aprendemos, persistimos porque devemos persistir, e persistimos novamente porque queremos escrever nossa história individual de superação, de transposição dos obstáculos. Persistimos porque temos que ensinar àqueles que ainda começam sua caminhada de que a vida é mágica, que a vida é divina, e que o amor transpõe todos os tipos de barreiras e obstáculos.

Persistimos porque, ao mesmo tempo que nos é roubado de sopetão tudo aquilo que nos dava alegria ao acordar de manhã, nos é dada a força necessária à superação, nos faz aprender que tudo pode ser superado, que podemos fazer tudo novamente, e que toda a novidade que está prestes à surgir pode e deverá ser melhor.

Beneficiamos, sim, todos aqueles que deixamos após nossa partida, ensinando que tudo que é difícil nem sempre o é, e nem tudo que aparenta ser fácil é rápido de ser solucionado.

Aprendemos, ensinamos. Esse é um mecanismo que nos move adiante, é isso que nos faz entender que, nem tudo aquilo que não tem resposta, respondido está.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Vida voando em vidas

De uma forma introspectiva e obtusa, mergulhei na solidão das almas, inquietas e frias, com mente torpe e de difícil abstração.

Fui de sopetão acordado por alguém batendo à porta da imaginação. Mas isso não passou de um vendedor de enciclopédias, cuja face triste e cansada ignorei com desprezo.

De nada adiantava ver as nuances do céu ao nascer do sol, se em seu poente eu estaria no mesmo estado catatônico, senão pior.

Sentia verter dos vermes toda podridão que há nos mais mesquinhos sentimentos, até perceber que não estava só a contemplar. Mas a companhia que cerceava meus instintos convictamente, nada mais era do que um distorcido reflexo de mim mesmo induzindo-me a erros, crassos e infantis.

Roguei à Deus que me desse asas para que pudesse voar para longe dali, pedido este que fora sutilmente recusado sob a égide do descaso, do abandono.

Estava ali, e não estava mais. Havia algo entre mim e minha consciência que não me deixava soltar as amarras.

E, de tanto insistir, cá estou em mar revolto à procura de ti...

Ao passo que tal loucura me assola, também me conforta, fazendo-me querer bem mais que um simples abraço. Tanto querer assim, resulta em sessenta dias de furacão após sessenta segundos de brisa.

Não paramos nunca, não desistimos jamais. Apenas entregamos as armas e abaixamos nossas defesas. Para nunca mais sermos atacados, tampouco atacar; apenas para não mais sermos vistos como sempre: aptos e prontos à guerrear, seja por um grão de areia, seja por uma montanha toda.

Do pó ao pó, das cinzas às cinzas, carregaremos nossos pecados e virtudes ao longo tempo, enquanto este passa, passando então, a não sermos mais lembrados, nem por nossos erros, bem menos por nossos feitos. E assim a vida segue, e assim os dias passam. E assim a humanidade dá seus passos.