quinta-feira, 21 de março de 2024

A essência humana do erro (e da culpa)

Ninguém erra por querer errar. Isto se chama dolo.

Melhor dizendo, ninguém sai de casa querendo errar, ou achando que vai cometer um erro.

Hoje, pela manhã, ao realizar uma conversão, raspei meu carro em um outro. Desci, localizei o proprietário, pedi desculpas, acionei o seguro e vida que segue.


Ninguém está livre de erros. Isto acontece, ou pode acontecer com qualquer pessoa.

Penso que o ponto (de reflexão) está em perceber o erro, responsabilizar-se por ele, assumi-lo.

Vivemos em um contexto atual em que o erro é inadmissível, onde ninguém erra. Ou melhor, ninguém mais tem culpa.


Ninguém é menos culpado que você mesmo. Isto deveria ser um lema, mas não é.

Na sociedade contemporânea tenho notado que estamos o tempo todo sendo cobrados por sermos perfeitos, e a perfeição é o oposto da culpa.

A culpa é torta, é uma falha na "matrix". Aquela aberraçãozinha que queremos esconder, como se fosse uma mancha mortal em nosso corpo.

Quando as pessoas querem se livrar da culpa, colocam outros no centro dos fatos, deslocando, com muito esforço, todos que estiveram ao seu redor, para justificar o porque de terem errado.


Ninguém é perfeito. Isto é um fato.

Quando as pessoas buscam subterfúgios de fato para justificar que elas não erraram, em qualquer contexto que seja, elas se eximem de reconhecer uma falha interior, e isso as impede de voltar, arrumar essa falha, e prosseguir, cientes do "problema" detectado.

Eximir-se da culpa faz com que as pessoas se importem mais com o que é exterior, com a visão que querem passar para a sociedade, do que para consigo mesmos, e via reflexa, para aqueles próximos a seu núcleo (filhos, cônjuge/companheiro(a), amigos, terceiros próximos).

Ao se voltar para o exterior, toda a conduta da pessoa se volta ao social, tende a externar aquilo que é bom para além daquele núcleo próximo, forçando um comportamento que não necessariamente reflete quem aquela pessoa de fato o é.

E quando as pessoas adotam este comportamento, de eximir-se da culpa por colocar a responsabilidade em outras pessoas, o seu interior passa a ficar sobrecarregado em razão da força (psíquica) necessária para esconder o que de fato há naquela natureza interior.

Está montada a caixa de pandora.


Ninguém usa uma máscara por muito tempo. Isto também é um fato.

Quando o excesso de peso é imensurável, então o sistema começa a dar sinais de alerta. Fadiga, estresse, 'burnout', depressão... 

Para os religiosos católicos, admitir a culpa significa, na minha concepção, reconhecer-se pecador, sendo o pecado uma mancha na alma, daí a razão, possivelmente, do comportamento de que transmitir ao outro a culpa é tornar-se puro. Porém, tenho uma triste notícia: não é, e este tipo de comportamento não conduzirá ninguém à salvação.


Ninguém está livre das consequências. Isto é um alívio.

Admitir a culpa logo no início dos fatos exime a alma de carregar um peso, e embora a fachada externa seja momentaneamente manchada, nada que um bom banho (metafórico) não a limpe.

Nenhuma pessoa está livre de cometer erros, e é justamente esta a essência da natureza humana, afinal de contas, "é errando que se aprende", "errar é humano, persistir no erro é burrice", e por aí vai.

Errar é sempre doloroso, em maior ou menor intensidade, mas envolve um princípio muito digno, e que muitas vezes faz bastante falta: a do auto exame de consciência, e do perdão e compreensão próprias.

Reconhecer o erro (culpa) envolve olhar para dentro e se conhecer melhor, e às vezes compreender (e entender) que você não está pronto para o desafio que se aproxima, ou para a jornada a qual pretende se lançar.

A assunção da culpa, no caso, torna a pessoa o que ela de fato é: humana, além de trazer leveza e coerência para a vida que há de continuar.


atenção: este texto é uma criação livre, partida das observações e reflexões de mundo de seu autor, e não carrega nenhum dado científico ou academicamente mensurado.

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