segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Presença ausente

Necessário dizer, porque não, no momento certo, com as palavras certas, do jeito certo.
Em uma noite quente de verão, um quarto abafado, suspiros apaixonados por alguma coisa que lhe escapou pelas mãos, pelos dedos. E de nada adianta chorar, pois tudo estará longe, de alguma forma.
Em algum canto, em algum lugar, sua metade se esvai em pensamentos ilusórios, casuísticos. Pensamentos em que divagam seres e sombras de um passado remoto, ao mesmo tempo próximo demais para ser esquecido.
As cinzas do tempo, começa a chover. E com a chuva, uma brisa morna, que acalenta, anima e consola. Um consolo tardio para quem já esperou demais.
Ao pisar no chão, um choque. Ao se lembrar de tudo, uma ilusão. Coisas insólitas, que pareceriam eternas, mas padeceram depois de tanto tempo. Quanto tempo.
Temos coisas importantes, temos idéias brilhantes, temos gás, energia... Mas nos falta a animosidade de quem tinha muito pra descobrir e aproveitar.
Já não somos mais crianças, e também não temos experiência. O mundo se aproveita de nós e nós nos aproveitamos dele. Machucamos e saímos machucados, pensando em nos tratar com quem quer que seja, ainda que num mar de rostos.
Pensamos absortos, corremos pra longe, voltamos. E o passado é tão presente quanto o futuro que nos aguarda, incerto na raridade das horas certas e certo na amplitude das horas erradas.
A flecha e a palavra, assim como a oportunidade, nunca voltam atrás. Agarrá-las, parece ser o mais sensato, ainda que seja ingrato tal presente, que se faz exatamente neste momento ausente.

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